Amadinho Meu

Amadinho Meu


Carinha de sapeca e terror,
sorriso encantador e cativante,
bochechas rosadas, cabelo loirinho,
desde fedelho sempre maior do que
as outras crianças da sua idade.

Antes de completar 3 anos, fraturou a tíbia jogando
bola dentro de casa. Por irresponsabilidade de um
ortopedista bêbado, por muito pouco não perdeu a
perna. Após 3 dias de tala, este infeliz quis
convencer uma mãe de que o filho estava apenas
gripado quando a estafilococcemia já estava em
estágio avançado. Esta mãe aqui, por muito pouco
não deu uma bofetada neste estrupício. Avaliado
pelo seu pediatra na mesma noite, internação de
emergência, uma semana de hospital. Para meu
amadinho, foi uma semana de recreação diferente.

Na pré-escola era um terror,
afffe maria jesuissssss cristinho..
Quantas vezes fui chamada no colégio.
Ele não brigava, era amigo de todos, mas não
controlava a sua força. Ele me dizia:
- Não sei por que as mães deixam meus amigos
passarem fome. Os coleguinhas, eram no mínimo
uns 10 cm menores que ele, afora o peso.

Quanta briga, castigo, cabelo em pé para fazer
este guri estudar. Chegou uma hora em que desisti,
a única obrigação que ele tinha, era passar de ano.
Era compreensível a antipatia pelo estudo,
trocar de escola todos os anos não era fácil.
Dos 4 aos 9 anos, foram 8 mudanças, dormia
numa cidade e acordava em outro lugar.

O avô materno dizia em alemão:
- O que vai dar com este guri ???!!!
Deixando a entender que meu amadinho seria
apenas mais um adolescente problemático..

Com 9 anos foi apresentado a uma bola de
basquete, paixão na primeira pegada..
Dormia, acordava, almoçava, brincava e ia
dormir novamente só pensando em basquete.

A mamis teve uma pequena participação nos
ensinamentos teóricos e técnicos, era uma
briga danada, ele sabia tudo, rsrsrsrs . Hoje
ele só dá risadas quando relembra. Em casa,
entortamos alguns aros, além de tabelas quebradas.

Nas categorias de base onde começou a brincar,
havia aqueles que o chamavam de “estrelinha”,
era em tom de deboche, pois não admitiam que
um fedelho que nem havia saído dos cueiros
tivesse mais habilidades com a bola do que os
que já estavam em categorias mais avançadas.

E o tempo foi passando..

Com 14 anos foi convidado para jogar com o
Kelvin em Joinville. Em SC, não há técnico que
chegue à altura dele em termos técnicos, táticos e
capacidade de corrigir os erros e preparar os atletas
que queiram verdadeiramente seguir carreira e fazer
do basquete sua fonte de renda e filosofia de vida.
No começo, comeu o pão que o diabo amassou,
perder as mordomias de morar com a família,
treinos duros e pesados diariamente, aprender a
conviver com um técnico que é o cão chupando
manga em quadra (escreveu não leu o pau comeu),
estudar... Mas em momento algum ele deu a
entender ou falou que queria voltar para casa,
também não perguntei e nem perguntarei.
Bem o contra, ele já sabia que, se conseguisse
sobreviver ao Kelvin e ficar fora de casa com tenra
idade, a primeira porta estaria abrindo-se e,
bastaria apenas treinar muito, abdicar de alguns
prazeres da vida, levar tudo muito a sério,
evoluir diariamente para ir conquistando
seu espaço, sua posição, seu status e manter-se
longe dos caminhos e opções obscuras da vida.

As vitórias, conquistas e títulos, apenas iam
aumentando a coleção de medalhas..

E o tempo continuou a passar..

Em 2005 foi selecionado para o Basketball
Without Borders Americas (Argentina), porém,
devido à politicagem na CBB, ele e outros atletas
não foram. Episódio sem explicação até hoje.
No mesmo ano foi convidado para o Adidas Superstar
Camp (São Paulo) ficou fora do All Star por te sofrido
uma lesão grave no supercílio esquerdo, levou 12
pontos...estavam presentes no Camp, olheiros da
NCAA que o convidaram para ir aos EUA.
Ele não recusou os convites, mas também não foi.

Quando Alberto Bial foi para Joinville, o então
adolescente de 17 anos, cai nas graças deste
técnico. Foi Bial quem o colocou em quadra
pela primeira vez para atuar num jogo da liga
nacional de basquete adulto.

Em 2006, a convite, fez um tour de 45 dias por
vários Estados Norte Americanos, participando
de clínicas e campeonatos de verão em equipes
renomadas. Foi o primeiro teste para saber se
agüentaria o tranco do ritmo do basquete
americano e conviver com outra cultura.

Enquanto esperava a regularização do I-20 e
demais documentos necessários para estudar e
morar nos EUA, jogou na Hebraica em SP.
Geraldes e Pipoca, dois técnicos que o adotaram
como filho e o mantiveram na linha.

Em 01.11.2006 foi definitivamente para os EUA.
Depois de 10 anos sem chegar numa semifinal
da liga de basquete da high school, o time do
Calverton chegou lá, com o Rodrigo como
maior pontuador da divisão.

Encerradas as competições escolares em 2007,
foi convidado para jogar no Triple 44 Threat
de Washington- DC para jogar na liga independente.
Morava e estudava em Ilhotian-Maryland, ia treinar
todos os dias em Washington, 30 min de carro.
No final da temporada, ficou entre os 20 melhores
atletas americanos na sua categoria e teve o
prazer e honra em ser convidado para fazer o Camp
do Lebrom James (NBA), onde apenas os melhores
são convidados a participar, visando os draft’s.

O ano letivo americano começa em setembro,
mês em que mudou-se para Paterson, North
Carolina, numa escola preparatória para o College
onde só há atletas, tanto masculino como feminino.
Agora, ele sabe o preço que está pagando por ter
reprovado um ano ( pura matação) e ter perdido
outro porque não dava para conciliar estudos e
jogar a liga nacional, mais campeonato Paulista.
Poderia estar no 2º ano do College.

Como todo bom atleta que se preze, lesões,
dores, fraturas, rompimentos, distensões e
contraturas fazem parte do dia a dia e entram
na listinha das coleções e cicatrizes.
Em outubro/07, teve uma lesão grave no joelho
direito, que o mantém afastado das quadras
desde então.

Azar, tropeço, coitadinho???
Nada disto, faz parte.
Mesmo lesionado, foi avidamente assediado pelos
times da NCAA. Chamaram-no de louco por recusar
proposta do Texas A&M e outras College’s de
renome para assinar contrato com a JMU Dukes,
Harrisonburg- Virginia, para onde se mudará
no 2º semestre do ano corrente.

Louco?
Que nada.. Ele sabe o que quer da vida e os
caminhos que precisa trilhar para, talvez
chegar ao draft da NBA. Se não chegar,
outras portas estarão a sua espera.
Louco ele seria se abrisse mão de um sonho
que pode estar prestes a tornar-se realidade
se mantiver a determinação, dedicação,
responsabilidade e, nunca esquecendo que,
no basquete defesa é determinação e
ataque é conseqüência.

(Lélia-LMSPP)

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