Hoje..

Hoje..


Hoje, quero acordar sem preocupar-me com a hora,
não quero contar as ressoadas do carrilhão e,
quero esquecer a vontade de matar o gavião que
usa os peitoris para se banquetear e presenteia-me
com os restos mortais dos pobres pardais.

Hoje, não quero esquecer-me que sou feita de
emoções, vibrações, sensações e limitações.
Quero olhar para o céu que talvez esteja acinzentado
e nele vislumbrar a versatilidade e sagacidade para
escutar a humanidade e poder entendê-la.

Hoje, não quero ser intérprete dos meus
sentimentos mais profundos, nem esmiuçar etapas.
Quero poder errar e pecar por omissão, trocar a
responsabilidade pela credulidade e deleitar-me
na inspiração e fabulação, presentes de Deus.

Hoje, quero poder contar uma história embalada
pelos personagens de Homero e Cervantes, com
ninguém mandando, cada qual com seus direitos
irrefutáveis e deveres delineados.

Hoje, quero abrir os arquivos das coisas positivas e
negativas, joga-las ao acaso e deixar o vento levar
tudo, sem, no entanto, perder minha identidade.

Hoje, quero escutar Memories sem emocionar-me,
escutar o primeiro movimento da 5ª sinfonia de
Beethoven próximo aos 70 decibéis, apostando
qual será o 1º vizinho a entrar em pânico.

Hoje, quero apenas ser EU,
esquecendo as convenções e imposições.

(Lélia-LMSPP)

Memories