Imaginação

Imaginação


Ao atendermos o telefone e escutamos
aquela voz nada familiar e desconhecida,
em questão se segundos,
nossa imaginação corre solta.
Conforme a pessoa vai falando,
vamos traçando o perfil dela:
gorda, magra, velha, nova, alta, morena,
loira, careca, barrigudo, cor dos olhos,
usa óculos ou não, é bonito(a), feio(a),
elegante, hilário(a), culta(o) ou tapada(o).
É simpático(a), arrogante, desconfiado(a),
petulante, irreverente, atrevido(a)..

Quanto mais contato mantermos com esta pessoa,
ouvindo apenas a voz..
mais fértil será a imaginação.

O timbre, a sonoridade e entonação da voz
dizem-nos muitas coisas.
Podemos errar por completo a aparência da pessoa,
porém, acertaremos muitas das outras.

No virtual acontece à mesma coisa.

Ao lermos comentários nos chats ou blog’s,
nos dois primeiros coments que a pessoa faz
já começamos a imaginar como será esta pessoa.
Conforme vai comentando,
esteticamente seguimos o mesmo ritual usado
ao ouvirmos a voz ao telefone.
Mas, a escrita vai atiçar a imaginação para
traçar o perfil emocional, comportamental e ético.

A escrita é traiçoeira..
Através dela podemos quase tudo,
até sermos reis e rainhas se assim o desejarmos,
alguns chegam a induzir que são deuses.
Pelas palavras cuidadosamente escolhidas,
a melosidade, a candura, irreverência, floreios,
manipulação e distorção de interpretação,
podemos induzir as pessoas a imaginarem o
que quiserem a nosso respeito.

Quanto mais adjetivos infantilizados escrevermos,
quanto mais elogios tecermos,
quanto maior a ingenuidade e a meiguice,
mais certeza a pessoa que está lendo terá
que somos extremamente simpáticas(os),
doces, de uma candura ímpar.
Verdadeiras almas gêmeas.

A voz engana-nos muito pouco
sobre o acima mencionado,
o timbre e a entonação não se
mantêm quando queremos
transmitir o que é irreal, os falsetes aparecem.

A escrita pinta e borda,
engana até o mais cético dos céticos.

Quantas vezes já imaginamos
uma determinada pessoa ser elegante,
altiva, de olhar penetrante, esbelta,
alta, cabelos castanhos e andar imponente.
Daquele tipo que chega e marca presença,
quando adentra em um recinto, as cabeças viram
para saber quem é e ficam admirados.
Imaginamo-la(o) assim porque,
nas entrelinhas dos comentários,
esta pessoa convenceu que assim o era.

Somos muito criativos quando
tentamos imaginar as pessoas.
Contudo, nada criativos para tentarmos disfarçar
a decepção no dia que conhecemos a pessoa e
vemos que tudo é exatamente
o oposto do imaginado.
A criatividade quase some ante a batalha interna
que travamos para que a realidade
não estrague o sonho que dessa pessoa fizemos.

O sonho que encantava, desvirtuou-se.
A imaginação que alimentava a alma
esvaiu-se ante um perfil que decepciona.

(Lélia-LMSPP)